Calmantes, ansiolíticos e indutores do sono

 

Estes produtos são, por certo, dos medicamentos mais vendidos em todo o mundo. Muitos médicos prescrevem-nos às dezenas por dia. Podem ser sem dúvida muito úteis a curto prazo, para debelar um estado de ansiedade grave, uma insónia, uma irritação. São bem tolerados e eficazes, mas, se usados continuamente, desenvolve-se ao fim de algumas semanas um certo grau de dependência. Neste caso, essa dependência manifesta-se na necessidade imperiosa de tomar o produto para evitar o reaparecimento da ansiedade e outros sintomas. Não raramente o doente tem de aumentar progressivamente a dose com o decorrer do tempo.

Não sendo produtos tóxicos, na generalidade das situações, podem todavia ser inconvenientes quando tomados continuamente. Estabelece-se, como dissemos, um certo grau de dependência; pode haver acumulação do fármaco, com perda de vivacidade intelectual e alterações da memória; e no idoso podem surgir quedas frequentes. Por outro lado, na generalidade das pessoas, pode diminuir a busca de soluções para os problemas, instalando-se uma atitude de apatia e uma postura depressiva.

Sendo assim, o seu uso deveria ser doses decrescentes, cessando ao fim de alguns dias, para só ser retomado mais tarde se a situação o justificasse. Infelizmente, os doentes na sua maioria não os querem pôr de lado, com a desculpa de que deixariam de dormir ou ficariam mais excitados. E assim não é raro ver pessoas a tomar Lorenin, Xanax, Victan ou Lexotan permanentementehá anos e anos.

Na gravidez os ansiolíticos deverão em princípio ser evitados. Devem ser postos completamente de lado durante o primeiro trimestre. 

Nas pessoas que sofrem de frequentes crises de pânico, o médico poderá prescrever um destes medicamentos, como o alprazolam ou  clonazepam, durante alguns meses. Mas trata-se de casos especiais. Na maioria dos casos de ansiedade, a boa prática é só serem tomados ansiolíticos durante curtos períodos.

Estes medicamentos são muitas vezes indicados para resolver um problema de insónia. Se o doente os toma continuadamente, tem dificuldade em os interromper, pois na noite em que o fizer pode ter as maiores dificuldades em adormecer, ou acordar cedo de mais e não voltar a conciliar o sono. Assim é frequentíssimo que os doentes se considerem dependentes e não vejam maneira de cessar o seu consumo, antes acabem por se conformar com a situação. Ora o facto é que, por muitas e variadas razões, é geralmente preferível dormir sem ajuda medicamentosa. O sono que a maioria destes hipnóticos induz não é igual ao natural, nem faz repousar tão bem como quando não se está medicado. Não se passa por todas as fases normais do ciclo do sono, as quais têm o seu papel próprio na consolidação da memória e no reforço das defesas do organismo. Por isso, em princípio, deverá o médico ajudar o seu paciente a desligar-se do medicamento para dormir, ao fim do tempo julgado conveniente; ou pelo menos escolher o fármaco que menos transtorno provoque e menos afecte a estrutura do sono. Claro que em pessoas idosas ou que tomam hipnóticos desde há muito tempo tem que agir-se com prudência.

Quando há necessidade de tomar regularmente um indutor de sono, será então de preferir aqueles que respeitam mais a estrutura do sono natural, a sucessão das suas fases, como o zolpidem ou o trazodone em baixa dosagem.

Em resumo, o que se recomenda vivamente é que os doentes tomem ansiolíticos só pelo tempo que o seu médico indicou, que deverá ser pouco, e nas doses mais pequenas.