Antidepressores
Os antidepressores (é assim que se deve chamá-los, não antidepressivos) são dos medicamentos mais importantes em Psiquiatria, e, bem aplicados, são das melhores armas que dispomos para debelar os estados depressivos e outras doenças afins. Não é verdade que se trate das “pílulas da felicidade”, como se chegou a afirmar. Na maioria das pessoas estes medicamentos não provocam directamente euforia nem muito menos felicidade, só actuam sobre a tristeza anormal e outros sintomas de depressão. Também importa dizer desde já que os antidepressores não causam dependência, mesmo quando tomados durante largo tempo, embora possam surgir alguns sintomas desagradáveis de curta duração quando se suspendem bruscamente. Por isso a suspensão deverá ser sempre gradual.
Convém ter presente que alguns antidepressores são também usados noutras indicações clínicas, para além das depressões. São úteis na prevenção das crises de pânico, em algumas fobias, na doença obsessivo-compulsiva, no stresse pós-traumático, na enurese, e em outras situações.
Os fármacos deste grupo usados na clínica são hoje cerca de vinte. Eles mostram algumas semelhanças entre si, quanto aos seus efeitos terapêuticos, mas já são bastante diferentes no que se refere aos efeitos secundários, indesejáveis, que infelizmente surgem muitas vezes.
Assim, começando pelos primeiros, a redução dos sintomas depressivos é em todos eles lenta a aparecer, tardando quase sempre duas semanas ou mais. Por isso o medicamento deve ser tomado continuadamente, sem paragens, na dose indicada pelo médico. Qualquer modificação deverá ser comunicada ao clínico. Geralmente a medicação é de duração prolongada, por vários meses. Com o tempo a dose pode vir a ser diminuída. Geralmente o médico manda suspender a medicação ao fim de um certo período, se o resultado o permite. Mas há alguns casos em que a medicação deve ser mantida por tempo indefinido.
Os efeitos secundários, indesejáveis, variam bastante de um fármaco para outro. Os mais antigos causavam secura da boca e prisão de ventre. Os mais recentes produzem algumas vezes náuseas e perturbações digestivas, mas são geralmente bem tolerados. Muitos dos mais modernos interferem temporariamente com a função sexual. Outros aumentam o apetite, como acontece com a mirtazapina, a paroxetina e o citalopram. Efeito inverso pode ter a fluoxetina. Como qualquer outro medicamento, nenhum antidepressor está isento de efeitos secundários. Por isso o médico tem de fazer a melhor escolha entre eles, em combinação com o doente, para obter o máximo benefício com o mínimo de inconvenientes.
Importa esclarecer que o tratamento das depressões não se faz só com medicamentos. É necessário um componente psicológico. Na maioria dos casos, podem ser sejam simples conselhos para alterar o regime de vida e suportar o stresse, numa atmosfera de abertura e confiança mútua. Noutras situações pode ser necessária uma orientação psicoterapêutica mais específica. Sempre haverá que conhecer e tentar intervir nas causas, internas ou externas, que conduziram à depressão.
Não se deve perder de vista que os antidepressores podem ter efeitos nocivos também a nível psíquico. Sendo certo que, como se disse atrás, eles não são euforizantes na maior parte das pessoas, é um facto que em alguns indivíduos mais ou menos predispostos podem provocar uma “viragem” de humor para um estado de excitação, irritabilidade ou mesmo euforia. O perigo destas situações provem de o doente não tomar consciência do que lhe está a suceder, parece-lhe que tudo vai bem, e custa-lhe a aceitar qualquer mudança no tratamento.
Acontece frequentemente que alguns desses doentes não querem deixar o antidepressor quando o médico assim entende, por terem ficado habituados a viver um tanto “acima dos acontecimentos”, com a leve excitação que neles causa o fármaco. É claro que nesses casos impõe-se cessar a sua toma, gradualmente se necessário, porque o doente está com certo abaixamento da crítica e pode ter comportamentos inconvenientes para si ou para outrem.
Mas estas situações não são frequentes e não devem ser impedimento a que o doente, quando verdadeiramente deprimido, seja aliviado do seu sofrimento, muitas vezes terrivelmente doloroso.
Prof. João Barreto - tel. 226067433 (15-19 horas)
Hélder Queirós
Muito informativo
Maria de Jesus Sanches
Gostei muito da informação